quarta-feira, 3 de abril de 2013

O futuro a Deus pertence

  
O futuro a Deus pertence, mas há outros deuses menores que o querem prever. Chamam-se astrólogos, bruxos, analistas políticos, e outros. Todos estes deuses menores têm uma coisa em comum: por norma, nunca acertam. As raras vezes em que acertam é pura casualidade.
Sobre esta tremenda incógnita – O Futuro – escreveu Ricardo Vargas na revista Start&Go de março/abril, um excelente artigo, que transcrevemos, com a devida vénia:

Futuro, terra incógnita

É humano e não há nada a fazer. Tendemos a lidar mal com a incerteza. Por isso inventamos mezinhas e rezas, consultamos astrólogos e adivinhos, pagamos a investidores e especialistas financeiros para que nos digam o que vai acontecer a seguir.

Não aceitamos a aleatoriedade, o acaso, a ambiguidade. Parece-nos impossível que uma coisa possa ser boa e má ao mesmo tempo, sob diferentes pontos de vista. A maioria de nós precisa de caixinhas fechadas para classificar a realidade e iludir-se acerca do seu controlo. Pensamos que por conhecer algumas das regras que gerem os acontecimentos eles ficam sob nosso domínio. A gestão é um ofício que depende da previsibilidade. Por isso os futurólogos têm um lugar tão central no nosso imaginário. Damos como boas as suas previsões sem pôr em causa os pressupostos com que analisam os factos, nem validar os seus critérios de seleção de informação. Permitimos-lhes que pensem por nós. Preocupamo-nos quando nos dizem que o momento é difícil e investimos quando nos dizem para o fazer. Quando tudo corre bem, as previsões dos especialistas diferem entre si algumas décimas de milímetro e nada mais. Todos seguem a mesma cartilha que lhes permite parecer que sabem do que falam sem correr o risco de afirmar algo tão fora das expectativas que possa ser facilmente desconfirmado a posteriori.
Mas quando a imprevisibilidade dos mercados atinge níveis elevados é vê-los de cabeça perdida. Basta ouvir o que dizem: “Esta é a maior crise desde a Grande Depressão”, “Vai passar tão rápido como a de 1987, não chega à de 1929”, “Já estamos a recuperar”, “Ainda não batemos no fundo”, “Invistam agora”, “Refugiem-se agora”. Visto de fora é quase divertido. A verdade é que se fosse possível fazer algum tipo de previsão os senhores teriam previsto o atoleiro em que nos encontramos. Onde estavam eles quando precisámos que nos avisassem para não avançar na direção do abismo? A fazer previsões marginalmente diferentes uns dos outros baseadas em factos do passado. Porque é assim que a coisa funciona. Os futurólogos analisam séries de dados do passado, caracterizam as semelhanças com a situação atual e “preveem” que o futuro será semelhante ao que aconteceu no passado a seguir à série de dados considerados. Não é espantoso? Os futurólogos olham para o passado para prever o futuro. Colocam uma “régua mental” sobre os gráficos existentes e traçam o ponto provável onde estaremos a seguir, utilizando esse padrão. Esquecem que os atores, as condições e os contextos que criaram os padrões de acontecimentos passados já não existem. Por isso as suas previsões são estatisticamente menos fiáveis do que o boletim meteorológico. O próprio conhecimento dos acontecimentos passados será utilizado pelos atores de hoje para maximizar os seus resultados amanhã. O jogo muda quando muda uma das suas variáveis. E no caso do mercado mudam todas de cada vez que uma oportunidade se apresenta. O futuro é uma terra incógnita. Não sabemos que povo o habita, que língua fala, que leis o regem, que valores tem. Não sabemos que doenças o afetam, nem se somos imunes a elas. Não conhecemos os seus negócios nem os seus líderes. Tudo o que sabemos sobre o povo do futuro é que será tão parecido connosco quanto os filhos se parecem com os pais. O que é quase nada. Por isso eu prevejo que algumas coisas muito boas e algumas coisas muito más acontecerão nos próximos tempos. Mas estudando as previsões do passado prevejo que as coisas verdadeiramente relevantes não serão previstas por ninguém.

Ricardo Vargas, CEO, Consulting House in revista Start&Go, nº 1 março/abril 2013

 

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