O
futuro a Deus pertence, mas há outros deuses menores
que o querem prever. Chamam-se astrólogos, bruxos, analistas
políticos, e outros. Todos estes deuses menores
têm uma coisa em comum: por norma, nunca acertam. As raras vezes em
que acertam é pura casualidade.
Sobre
esta tremenda incógnita – O Futuro – escreveu Ricardo Vargas na
revista Start&Go de março/abril, um excelente artigo, que
transcrevemos, com a devida vénia:
Futuro,
terra incógnita
É
humano e não há nada a fazer. Tendemos a lidar mal com a incerteza.
Por isso inventamos mezinhas e rezas, consultamos astrólogos e
adivinhos, pagamos a investidores e especialistas financeiros para
que nos digam o que vai acontecer a seguir.
Não
aceitamos a aleatoriedade, o acaso, a ambiguidade. Parece-nos
impossível que uma coisa possa ser boa e má ao mesmo tempo, sob
diferentes pontos de vista. A maioria de nós precisa de caixinhas
fechadas para classificar a realidade e iludir-se acerca do seu
controlo. Pensamos que por conhecer algumas das regras que gerem os
acontecimentos eles ficam sob nosso domínio. A gestão é um ofício
que depende da previsibilidade. Por isso os futurólogos têm um
lugar tão central no nosso imaginário. Damos como boas as suas
previsões sem pôr em causa os pressupostos com que analisam os
factos, nem validar os seus critérios de seleção de informação.
Permitimos-lhes que pensem por nós. Preocupamo-nos quando nos dizem
que o momento é difícil e investimos quando nos dizem para o fazer.
Quando tudo corre bem, as previsões dos especialistas diferem entre
si algumas décimas de milímetro e nada mais. Todos seguem a mesma
cartilha que lhes permite parecer que sabem do que falam sem correr o
risco de afirmar algo tão fora das expectativas que possa ser
facilmente desconfirmado a posteriori.
Mas quando a imprevisibilidade
dos mercados atinge níveis elevados é vê-los de cabeça perdida.
Basta ouvir o que dizem: “Esta é a maior crise desde a Grande
Depressão”, “Vai passar tão rápido como a de 1987, não chega
à de 1929”, “Já estamos a recuperar”, “Ainda não batemos
no fundo”, “Invistam agora”, “Refugiem-se agora”. Visto de
fora é quase divertido. A verdade é que se fosse possível fazer
algum tipo de previsão os senhores teriam previsto o atoleiro em que
nos encontramos. Onde estavam eles quando precisámos que nos
avisassem para não avançar na direção do abismo? A fazer
previsões marginalmente diferentes uns dos outros baseadas em factos
do passado. Porque é assim que a coisa funciona. Os futurólogos
analisam séries de dados do passado, caracterizam as semelhanças
com a situação atual e “preveem” que o futuro será semelhante
ao que aconteceu no passado a seguir à série de dados considerados.
Não é espantoso? Os futurólogos olham para o passado para prever o
futuro. Colocam uma “régua mental” sobre os gráficos existentes
e traçam o ponto provável onde estaremos a seguir, utilizando esse
padrão. Esquecem que os atores, as condições e os contextos que
criaram os padrões de acontecimentos passados já não existem. Por
isso as suas previsões são estatisticamente menos fiáveis do que o
boletim meteorológico. O próprio conhecimento dos acontecimentos
passados será utilizado pelos atores de hoje para maximizar os seus
resultados amanhã. O jogo muda quando muda uma das suas variáveis.
E no caso do mercado mudam todas de cada vez que uma oportunidade se
apresenta. O futuro é uma terra incógnita. Não sabemos que povo o
habita, que língua fala, que leis o regem, que valores tem. Não
sabemos que doenças o afetam, nem se somos imunes a elas. Não
conhecemos os seus negócios nem os seus líderes. Tudo o que sabemos
sobre o povo do futuro é que será tão parecido connosco quanto os
filhos se parecem com os pais. O que é quase nada. Por isso eu
prevejo que algumas coisas muito boas e algumas coisas muito más
acontecerão nos próximos tempos. Mas estudando as previsões do
passado prevejo que as coisas verdadeiramente relevantes não serão
previstas por ninguém.
Ricardo
Vargas,
CEO,
Consulting House in revista Start&Go, nº 1 março/abril 2013
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