domingo, 27 de junho de 2010

Verdade Verdadinha

 
Diz Sua Excelência o Presidente da República Portuguesa que “quem quiser conhecer a verdade, repito a verdade, insisto a verdade … etc.”.
Não sei a que verdade se refere Cavaco Silva.
Diz o povo que a verdade é só uma.
É mentira.
A verdade é como os capachos, há para todos os gostos.
Há quem diga verdades mentindo e pior e mais frequente há quem minta dizendo verdades (cada um coloque as aspas ou quiser).
Cavaco Silva tem andado a dizer umas verdades (ou serão mentiras?!) sobre o estado da economia portuguesa.
Que me recorde, nunca vi o professor Aníbal Cavaco Silva tão frontal com a crise quando era primeiro-ministro.
Já está em pré-campanha?
Sim porque motivos para falar têm havido muitos, mas tem andado num estado afónico um pouco confrangedor.
  

sábado, 26 de junho de 2010

À Fisgada!

 
Nunca usei uma fisga.
Ou melhor, nunca fui dono de uma fisga. O meu pai nunca deixou.
Ainda me recordo do prazer que tinha de ir com os meus amigos aos pássaros com fisga.
Tinha que usar as deles, já que estava proibido de possuir esse arsenal de guerra.
Isto passava-se no final dos anos sessenta do século passado em Malange, Angola.
Hoje, 26 de Junho de 2010, fiquei deslumbrado com a foto aqui do lado.
A polícia indiana a correr à fisgada manifestantes separatistas em Srinangar, Índia.
Foi ontem, sexta-feira.

  

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Bicha

 
A crise é enorme.
Veja-se a enorme bicha (fila, para os mais sensíveis) da foto ao lado.
É para comprar carne?
Comprar pão?
Comprar leite?
Não ... que disparate!
É para comprar o novo iPhone 4.
Isto foi ontem, 24/06/2010 à porta da loja Apple, aqui em Londres.

Sem mais comentários ...

 

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Eu génio

 
Passamos pelas coisas sem as ver,

gastos, como animais envelhecidos:

se alguém chama por nós não respondemos,

se alguém nos pede amor não estremecemos,

como frutos de sombra sem sabor,

vamos caindo ao chão, apodrecidos.

Eugénio de Andrade
 
 

domingo, 20 de junho de 2010

O Indesejado

 
Todos nós gostamos de receber visitas em nossa casa. Amigos, familiares ou menos conhecidos desde que sejam ilustres. Faz-nos bem ao ego.
Em contrapartida há visitas que dispensamos. Ou nem queremos ouvir falar. Mesmo que ilustres.
O FMI é um caso destes. Quando nos bate à porta até as paredes tremem.
Ao longo dos tempos podemos mentir, dizer que as finanças não vão tão mal como pintam, a recuperação está no bom caminho, o pior já passou … nisto, aparece o famigerado FMI e desmascara tudo.
Em engenharia financeira tenho visto muita coisa, mas um golpe de marketing como este nunca: José Luís Zapatero não esperou que o FMI lhe batesse à porta. Convidou-o a ir lá a casa!
É de homem!
O director-geral do FMI, Strauss-Kahn, teceu elogios às medidas de austeridade espanholas e disse estar muito confiante nas perspectivas a médio e longo prazo para a economia espanhola.
E disse mais: Espanha e Portugal não são comparáveis porque, entre outros, a dívida pública e privada portuguesa é excessiva.
É claro que o senhor Strauss-Kahn se “esqueceu” de falar no défice espanhol que é muito superior ao nosso ou no escandaloso número de desempregados (quase 20%) que a Espanha tem entre braços.
E não nos podemos esquecer que a banca espanhola está com crédito malparado cada vez maior, atingindo valores na casa dos 5,49%, a mais alta desde Março de 1996.
Foi inteligente este convite de Zapatero?
Foi.
Foram úteis as declarações de Strauss-Kahn?
Foram. Acalmaram o mercado e reduziram o ímpeto dos especuladores que já tinham as suas baterias apontadas para Espanha. Dispensava-se a referência a Portugal.
É bom para Portugal que a economia espanhola se consolide.
Tanto mais que, se a economia espanhola for ao fundo, a portuguesa morre afogada.
 

A Paixão Juvenil

 
Se calhar as minhas grandes paixões passaram-se entre os doze e os quinze anos: por cromos de artistas de cinema que vinham nas embalagens das pastilhas elásticas, pela tia de um colega da escola que me passou a mão no cabelo, por meninas que patinavam no Jardim Zoológico e não me ligavam nenhuma, por uma senhora da idade da minha mãe que encostou a perna à minha no eléctrico, por uma outra, mais velha ainda, que me pegou na mão no cinema. No intervalo, loiríssima, fumou um cigarro de filtro doirado sem olhar para mim a fim de que não pensassem que namorávamos, visto que os assuntos sérios querem-se com recato e eu ainda não tinha dito nada aos meus pais, tornando o noivado oficial, mas a seguir ao intervalo, no escuro, discreta e suave, pegou-me na mão outra vez, largou-a para me acariciar o joelho

(eu usava, imperdoavelmente, calções)

demorou-se no princípio da coxa, com pressões várias e lentas

(sentia-lhe os anéis)

regressou à mão, entrelaçou os dedos nos meus, fez-me cócegas, com as unhas, na palma, o polegar passeou-me para baixo e para cima pulso adiante, mal o filme acabou levantou-se e nunca mais a vi. Quer dizer, vi o cabelo loiro a entrar num táxi e chovia. Não há nada mais triste que um amor sincero terminado à chuva.

António Lobo Antunes, Visão 17/06/2010

Crónica completa (aqui)
 
 

sábado, 19 de junho de 2010

A Lição do Ladrão

 
Lição que um rei do sul da Índia recebeu de um ladrão.
Desejoso de aprender todos os segredos do roubo, não na intenção de passar a roubar, mas para melhor fazer justiça, um rei mandou chamar um famoso ladrão e pediu-lhe lições.
O homem pareceu espantado, e até escandalizado.
- Ladrão, eu? Quem te convenceu de tamanha falsidade? Sempre vivi muito honestamente. Como poderia dar-te lições de roubo?
Protestando assim a sua inocência e declarando-se imerecedor da malevolência dos seus vizinhos, que sem dúvida o tinham denunciado para destruírem a sua excelente reputação, o homem foi solto.
Entretanto, alguns minutos depois da sua partida, o rei apercebeu-se de que lhe faltava um anel precioso na sua mão. Mandou prender o homem, revistaram-no, mas não encontraram o anel – que ele já teria passado a algum cúmplice. E desta vez, por crime de lesa majestade, o homem foi atirado para a prisão e condenado a ser empalado na manhã seguinte.
Nessa noite, o rei não conseguia adormecer. Com o espírito perturbado, lembrava-se dos protestos de inocência que o homem tinha dado a ouvir, tanto no palácio como no momento da sua detenção. A meio da noite o rei levantou-se e desceu à prisão. Deram-lhe entrada, sombra silenciosa, e ele ouviu o preso sozinho na sua cela escura, que orava com fervor, chorava baixinho e continuava a dizer-se injustamente perseguido. O rei – que o preso de modo nenhum podia ver – retirou-se sem barulho, muito comovido, e decidiu soltar o preso, convencido da sua inocência. Depois disso, o sono chegou para ele.
No dia seguinte, já solto, o homem foi levado ao soberano. Esfregou rapidamente as mãos uma na outra, fazendo aparecer o anel do rei. Depois agarrou-o entre dois dedos e deu-lho, com todos os sinais de obediência e respeito.
O rei, muito admirado, perguntou-lhe as razões do seu comportamento.
- Pediste-me lições – disse o ladrão. – Aqui tens a primeira: um ladrão deve sempre manter a aparência de cidadão honesto, respeitador das leis e da fé. E eis a segunda: é absolutamente essencial que afirme a sua inocência, mesmo quando se encontra em situação extrema. Queres que marquemos a terceira lição?

Jean-Claude Carrière in “Tertúlia de Mentirosos”

 

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Quando Eu Nasci ...

 
Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.
Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu
nem houve estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.
As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...
para que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe.

Serra-Mãe, Sebastião da Gama 1924-1952

  

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sem Crédito

 
Há cerca de dez anos, mais coisa menos coisa, a Caixa de Crédito Agrícola de Beja fez uma campanha de angariação de clientes junto de reformados e pensionistas de Quintos. A oferta da Caixa Agrícola era interessante: “abram conta na Caixa Agrícola e optem pela transferência bancária das vossas reformas que nós comprometemo-nos a mensalmente vir aqui efectuar o pagamento da vossa reforma”.

Escusado será dizer que a esmagadora maioria dos reformados de Quintos aceitou com ambas as mãos tão grata benesse. Mesmo aqueles que já tinham optado pela transferência da bancária da reforma para outras instituições bancárias transferiram as suas contas para a Caixa Agrícola.

A Junta de Freguesia de Quintos, porque achou a acção de interesse público, cedeu as instalações para o efeito.
O contrato entre a Caixa Agrícola e os reformados foi apenas de palavra. Para um antigo assalariado rural – muitos nem sabem ler ou escrever – a palavra vale muito. Vale tudo. Para quem está de má-fé a palavra vale enquanto interessar.

A Caixa Agrícola de Beja deixou de ter interesse nos reformados e pensionistas de Quintos. Este mês – Junho – será a última vez que pagará reformas em Quintos. Informaram os clientes que futuramente têm que ir receber as suas reformas a outro lado: Cabeça Gorda, Beja, Mértola, etc.

A desculpa para o encerramento do serviço, mas que não convence ninguém, é o medo do assalto(?!). O que se comenta é que este serviço, efectuado após o horário normal de trabalho, não era pago aos funcionários e estes disseram basta.

É com lágrimas nos olhos que me confrontam com esta terrível notícia na esperança de eu lhes apresentar uma solução para tão grave problema.

Lembro-lhes que a Junta de Freguesia tem o dever e a obrigação de solucionar o caso.

Puro engano.

A Junta de Freguesia já informou que a Caixa Agrícola não é sua propriedade e como tal nada pode fazer.

Bonita justificação.

É o descrédito de uma instituição que já teve crédito, e muito, em Quintos – a Caixa de Crédito Agrícola de Beja.

É a desacreditação de uma instituição que devia ser de referência para os mais necessitados – a Junta de Freguesia.

 

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Porque Hoje é Sexta

 
Podia ser sábado.
Ou terça.
Todos os dias são válidos para recordar um Povo vítima de um outro povo.
Sem outros comentários, aqui ficam alguns cartoons retirados do blogue humorgrafe.



   

quinta-feira, 3 de junho de 2010

O Melhor Post de Maio

  
Há momentos especiais.
Há post especiais.
E este – Um Dia Especial – é seguramente um post muito especial para mim.
É o melhor post do mês de Maio.

Um Dia Especial

Mais logo, quando acordar,
Quero ser um girassol
E rodar o dia inteiro
Sempre virada para o sol,
Quero brilhar contra o céu
E absorver toda a luz
Que o sol tiver p'ra me dar...

E quando a noite chegar
E eu me deitar na cama,
Serei tocha, serei chama
P'a meus sonhos enxergar...

Escrita por Baby em 04/05/2010

 

terça-feira, 1 de junho de 2010

David e Golias

 
Golias, com a sua força e o seu armamento julga-se o senhor de mundo. Invencível. 
Quando olha para David tem um ataque de riso ao analisar o seu parco poder.
David é minúsculo, indefeso e inofensivo pouco ou nada pode contra o gigante Golias.
Golias, para agravar a situação, diz que David o está a atacar. E ri-se. Diz que outra alternativa não lhe resta que atacar para se defender. E ri-se.
David não se rende.
Nem pode, porque tem a razão do seu lado.
E a razão mesmo vencida não deixa de ser razão.