domingo, 8 de maio de 2016

O Amor e o Ódio


Vítor Encarnação escreve na sua crónica “nada mais havendo a acrescentar…” no Diário do Alentejo desta semana sobre a dicotomia “Amor – Ódio”.
Com a devida vénia, transcrevo:
«O amor e o ódio
O amor e o ódio são gémeos verdadeiros que vivem abraçados um ao outro. Enquanto o primeiro vive o outro faz-se de morto, esconde-se num sítio escuro, anicha-se na penumbra dos ácidos e das amarguras e por ali fica, às vezes uma vida inteira sem se dar por ele, outras vezes basta uma insatisfação, um capricho não satisfeito e eis que ele mata o amor, inapelavelmente, com uma facada nas costas. Mas primeiro é o amor, primeiro é o absoluto encantamento, primeiro é essa coisa maior do que o mundo, maior do que a vida. Haja pele e carne e olhos e mãos para ver, para tocar, para ter. O problema do amor comum é esse, o problema do amor comum é que gosta de ter, espera sempre mais do que dá, gosta de ser amo do próprio amor. O amor tem um molde onde o outro tem de encaixar para que tudo seja perfeito. E quando esse molde não se preenche, quando o egoísmo assoma à boca e ao pensamento, o amor dá lugar ao seu irmão gémeo. E então o ódio sai das catacumbas que as pessoas trazem no peito, rasga as memórias e os beijos e a eternidade e as promessas e o casamento e os filhos e o mundo e a vida toda e grita uma intensa e cega raiva. Só que enquanto o ódio vive, o amor morre mesmo. Para sempre. E se não morrer, nunca mais será verdadeiro.»
Vítor Encarnação in DA 1776 (II Série) | 06 maio 2016

  

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