quinta-feira, 5 de abril de 2012

Home, sweet home

   
O lar deveria ser sempre o local de maior doçura na vida de um ser humano.
É lá que nos sentimos seguros. É lá que passamos mais de um terço das nossas vidas. É lá que somos felizes, mesmo em tempos de crise.
Mas lar é também o contrário de bem-estar, de felicidade. Este lar a que me refiro é aquele local em que se depositam os velhos que nos atrapalham a vida.
Depositam-se em lares de terceira idade e dizemos para nós mesmos: “Está lá muito bem! É muito bem tratado!”. Acreditamos nisso… Ou fazemos que acreditamos. Outros há que, com a desculpa de uma «dor», os levam à urgência hospitalar e «esquecem-se» de os ir buscar.
Hoje fui ao lar da Salvada visitar uma velha amiga e parente distante que lá foi depositada.
Mal me viu, de olhos rasos de água e agarrada a mim, apenas murmurava «Ai o meu menino!» e acariciava-me como se fosse filho dela.
Perguntei-lhe pelos filhos.
- Sabes, Luís – respondeu – eles têm a vida deles, muitos afazeres e não têm tido vagar de me visitar.
Soube que desde setembro não visitam a mãe. É um crime!
Estes velhos vivem na esperança de lhes chegar um familiar com um gesto de ternura, uma pergunta sobre o seu estado de saúde, um beijo.
A cada dia que passa vão dizendo «talvez amanhã» esse familiar chegue.
Muitas vezes chega apenas com a notícia do óbito para arrecadar alguns tostões que o velho deixou.
Este lar não é doce, tem um travo demasiado amargo.
  

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