segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A nossa justiça


É, contra tudo e contra todos, a melhor Justiça. O resto são pormenores insignificantes.
Sobre um dos temas da atualidade mediática internacional transcrevo e subscrevo o texto de Ricardo Pereira na publicação Magg da passada sexta-feira:
«Quando pedem justiça, as pessoas não querem justiça, querem apenas que se decida de acordo com a sentença que já traçaram nas suas cabeças.
O caso do suposto crime de violação que poderá ter sido cometido por Cristiano Ronaldo tem tido esse efeito na sociedade portuguesa, e tem mostrado que, de facto, muita gente não pede nem quer justiça, não quer que os tribunais analisem todas as provas e decidam de acordo com o que for encontrado pela investigação, preferem, antes, ser elas próprias a julgar de acordo com o que andam a ler, com o que ouvem no café ou o que “aprendem” em conversas de amigos. Se a decisão final sobre este caso não for ao encontro da opinião que entretanto formularam, então, não terá sido feita justiça.
Tal como quase toda a gente, o que sei sobre este caso é o que tenho lido em jornais, nacionais ou internacionais, e ouvido nas televisões. Não tenho qualquer certeza sobre o que aconteceu, sobre a culpa de Ronaldo ou as intenções de Kathryn Mayorga, mas há factos que ninguém pode desmentir [e os factos são]:
1. Houve uma relação sexual entre Ronaldo e Kathryn Mayorga, a 12 de junho de 2009, num hotel em Las Vegas;
2. No dia seguinte, Kathryn apresentou na polícia de Las Vegas uma queixa afirmando que tinha sido violada;
3. A polícia de Las Vegas fez testes a Kathryn e confirmou que a então modelo teria sido “penetrada no ânus”, de acordo com o relatório das autoridades;
4. Perante esta queixa, a polícia de Las Vegas interrogou Ronaldo, que confirmou o ato sexual, admitiu que “ela disse não e para várias vezes”, embora se tenha mostrado “disponível”. Admitiu que foi “rude”, que durante o ato não mudaram “de posição”, que o mesmo durou “cinco a sete minutos”, e que no final lhe garantiu que não era “como os outros”, pendido-lhe “desculpa” depois de terem tido relações sexuais.
5. Alguns meses depois destes interrogatórios, os advogados de Kathryn e Ronaldo iniciaram conversações no sentido de chegarem a um acordo que contemplaria o silêncio da modelo sobre o caso, a troco de uma indemnização, que acabou por se fixar em 375 mil dólares;
6. Motivada pelo movimento #MeToo, e para tentar perceber se o mesmo teria acontecido a outras mulheres, Kathryn quebrou o silêncio e contou a sua versão da história, tendo os seus advogados manifestado disponibilidade para devolver os 375 mil dólares que Kathryn recebeu, para que o caso possa ser devidamente julgado pela justiça;
7. A polícia de Las Vegas reabriu o caso.
Tudo isto são factos, não é especulação, não é diz-que-disse, não é uma versão da história. Perante isto, como é que a esmagadora maioria das pessoas reagiu em Portugal, usando sobretudo as redes sociais? Insultando Kathryn, questionando as suas motivações, vitimizando Ronaldo. Muito pouca gente teve o bom senso de dizer apenas: “Vamos esperar para que sejam analisados todos os factos e depois logo se vê se Ronaldo é culpado ou não”. E era isso que deveria ter acontecido. Nem Ronaldo é mais culpado por ser uma vedeta planetária, nem é menos culpado por ser o nosso herói. Quem vai ter de responder por esta acusação não é o jogador que marca golos de qualquer lado, não é o melhor do mundo, é o cidadão Cristiano Ronaldo Aveiro, que tem os mesmos direitos e obrigações que qualquer outro. É a isso que se chama justiça e é precisamente por ser assim que o símbolo da justiça é uma figura com os olhos vendados, porque todos são iguais perante a lei.»
Ricardo Martins Pereira in MAGG 05-10-2018

Foto: by Observador
 

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