sexta-feira, 27 de julho de 2018

O amor pela maledicência


Confesso, nunca tinha pensado nisto. Sou distraído, assumo.
Concordo e subscrevo o artigo de opinião do juiz desembargador José Lúcio no Lidador Notícias, que transcrevo parte. 
“Os portugueses gostam de não gostar. Junte-se um molho deles, e veja-se. Basta começar a dizer mal, de algo ou de alguém.
Não há nada melhor para o convívio, nem petisco mais apreciado. As conversas logo se animam, numa cumplicidade subitamente desperta.
E nesse exercício solidário se descobrem afinidades, se alegra a festa, num sentimento comum. Qualquer grupo conhece esse sabor incomparável, a fraternidade calorosa da má língua. Desvanecem-se tensões e animosidades, descontraem as hostes, irmanam-se os espíritos.
Faça-se também a experiência oposta. Um dos convivas, desprevenido e ingénuo, que tente intervir para emitir elogios ou exprimir agrado. Nem interessa a que propósito ou despropósito. Não duvidem que a intervenção vai provocar logo uns esgares de estranheza e incómodo. Logo tinha que aparecer um a estragar o ambiente. Baixa a temperatura, as almas esfriam. Estava tudo tão bem, assim é que não tem graça.
(…) Uma outra manifestação do mesmo fenómeno trouxe-nos o engraçadismo que se tornou dominante nos grandes meios de comunicação social. Não se pode falar de nada, por mais sério e dramático que seja, sem condimentar a prosa com uma graçola ou alarvidade qualquer. Alarvidade ou ordinarice, que as fronteiras esbatem-se no esforço preocupado e artificial para ser engraçado a todo o custo. (…)”
José Lúcio, Juiz Presidente da Comarca de Beja in LN 27/07/2018
Imagem: Google

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