quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Amor é...

  
Da Revista online Subversa, outubro 2014, transcrevemos com gosto e com apenas este comentário:
Publique-se.

 «Manifesto das Distâncias
Fica terminantemente proibido o afastamento do namorado e da namorada por mais de 20 (vinte) dias, a contar das lágrimas da ida até o momento do reencontro. Em casos de obrigação de afastamento por motivo profissional, o afastado fica livremente convidado a enviar mensagens de amor ao remanescente, que de modo geral deve responder satisfeito e fazer o afastado sentir-se bem, mesmo longe, preferencialmente aliviando-lhe a culpa de se ter afastado. O afastado fica carinhosamente instruído a não sobrecarregar o remanescente de preocupações e ciúmes desnecessários, poupando-o da dor do desconhecido e do medo de perder o seu amor durante o afastamento. O remanescente também não deve criar motivos propositadamente agoniantes no afastado, e colaborar durante o período da espera com compreensão, carinho e sobretudo bastante saudade.
Imagem: girl-ballon-bansky

Em casos de noivado, os dias de afastamento podem-se estender até o período máximo de 30 (trinta) dias, comprometendo-se afastado e remanescente a aproveitarem o momento para cuidar de si e da sua individualidade antes da experiência do casamento, preferencialmente tendo preparado uma surpresa agradável. Todas as recomendações acima descritas a respeito das investidas no contacto amoroso, mantém-se. As empresas públicas, privadas e mistas estão terminantemente proibidas de contratar noivos ou noivas para trabalhar em outra cidade, se ambos não estiverem de acordo. Em caso de discórdia amorosa em relação ao local de residência, a instituição contratante fica responsável por recolocar o profissional em cargo semelhante ou superior ao antigo.
Em caso de grandes amores dificultados pela distância, poderá ser ativado o aviso de calamidade afetiva, em que as imobiliárias, as agências de emprego e inclusive os bancos públicos e privados devem contribuir e facilitar a vida do casal onde quer que queiram fixar as suas vidas, impedindo que a rotina árdua de adaptação desgaste o relacionamento.
Em casos de amores que se comprove grande dispêndio de energia, dinheiro e tempo em função de sucessivos afastamentos, em que ambos estão deslocados de sua residência, mesmo tendo sido acionado o aviso de calamidade afetiva, a natureza, os búzios, os autos de fé e os anjos da guarda devem unir-se numa só força e conspirar a favor do relacionamento até quando ainda existir amor, mesmo que diminuído pela luta diária que é a vida.»
Morgana Rech (Porto Alegre, RS, Brasil) é psicóloga, mestre em Teoria da Literatura e escritora