terça-feira, 22 de outubro de 2013

Para meditar

  
"Não esperes de mim um estilo ataviado e polido. Empregá-lo-ia se quisesse mas a verdade escapa-se quando estamos a escolher muito as palavras e usamos de rodeios: isso é nem mais nem menos que enganar. Se é isso que desejas, recorre a Cícero, pois é esse o seu ofício. O que eu disser será bastante belo, se bastante verdadeiro. As belas frases convêm aos retóricos, aos poetas, aos áulicos, aos namorados, às cortesãs, aos proxenetas, aos aduladores, aos parasitas e semelhantes, para os quais o falar bem é um fim.
Oxalá que tudo aquilo que eu atentamente elaboro, depois de elaborado tu o recebas com o mesmo espírito e precaução, e o julgues com são critério: e que tudo aquilo que parecer falso, tu o destruas com razões sólidas, e não, como fazem os invejosos e alguns ignorantes, com injúrias ineptas e que nada invalidam; aquilo, porém, que parecer justo, oxalá que tu o aproves e confirmes".

Excerto do livro "Quod nihil scitur" (Que nada se sabe) de Francisco Sanches, médico português nascido em Braga no ano de 1550.
Francisco Sanches foi professor de medicina na Universidade de Toulouse, França, cidade onde morreu em 1623.
 

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