Poderia ter o título de A Virtualidade de Todos Nós, mas não tem.
Retrata, e bem, o mundo virtual em que todos nós – cibernautas – vivemos. Queremos fazer passar uma imagem ora fria, ora apaixonada, consoante os amores ou humores. Mas, por vezes, temos (na net) comportamentos que nos surpreendem.
Meditação sobre a década que hoje começou a acabar
Provavelmente, em nenhuma outra década como na que agora começou a acabar chorámos ou rimos tanto por causa de gente que achávamos que conhecíamos. Já muito se tem falado desta virtualidade, que foi uma das grandes marcas da época: nunca tivemos tanta gente ao alcance dos dedos, nunca o mundo nos entrou tanto pela casa dentro.
Mas talvez nunca tenhamos estado tão afastados dos outros e da realidade, porque só uma parte deles - e dela - nos chega pelo monitor. E essa parte é a mais segura e asséptica: não há cheiros, nem toques, nem frio nem calor, nada nos atinge sem ser filtrado. Amamos e odiamos sem impedimentos físicos, sem as barreiras dos sentidos e daquilo que quando eu andei na catequese se chamava o "respeito humano." Somos capazes de ter centenas de amigos, porque eles nada mais nos exigem do que uns cliques no rato. E podemos ter inimigos à farta, porque não nos vão enfiar um murro entre os olhos.
No computador do seu quarto (cuja potência é largamente superior à que foi necessária para enviar os primeiros homens à Lua em 1969), qualquer puto tem hoje ao alcance da mão, em segundos, mais informação crítica sobre o mundo do que tinha nessa altura o presidente dos Estados Unidos. Mas não sabe nem quem é o primeiro-ministro do seu país. Os miúdos da geração SMS cada vez falam menos e grunhem mais. E são capazes de estar a falar uns com os outros pelo telemóvel na mesma sala, com poucos metros entre si. Não me apetece ser velho do Restelo ou tio chato para quem dantes é que era bom. Mas só um idiota achará que isto não é inquietante.
"Less is more" - menos é mais - era o lema arquitectónico de Mies van der Rohe. Eu temo que mais seja cada vez menos. Estamos ainda longe de viver em redomas, aventurando-nos cada vez menos para fora delas ao encontro de uma realidade que é desagradável, porque real. Mas já estivemos bem mais longe.