É, contra tudo e contra todos, a melhor Justiça. O resto são
pormenores insignificantes.
Sobre um dos temas da atualidade mediática internacional
transcrevo e subscrevo o texto de Ricardo Pereira na publicação
Magg da passada sexta-feira:
«Quando pedem justiça, as pessoas não querem justiça, querem
apenas que se decida de acordo com a sentença que já traçaram
nas suas cabeças.
O caso do suposto crime de violação que poderá ter sido
cometido por Cristiano Ronaldo tem tido esse efeito na sociedade
portuguesa, e tem mostrado que, de facto, muita
gente não pede nem quer justiça, não quer que os tribunais
analisem todas as provas e decidam de acordo com o que for encontrado
pela investigação, preferem, antes, ser elas
próprias a julgar de acordo com o que andam a ler, com o que ouvem
no café ou o que “aprendem” em conversas de amigos. Se a decisão
final sobre este caso não for ao encontro da opinião que entretanto
formularam, então, não terá sido feita justiça.
Tal como quase toda a gente, o que sei sobre este caso é o que
tenho lido em jornais, nacionais ou internacionais, e ouvido nas
televisões. Não tenho qualquer certeza sobre o que aconteceu, sobre
a culpa de Ronaldo ou as intenções de Kathryn Mayorga, mas há
factos que ninguém pode desmentir [e os factos são]:
1. Houve uma relação sexual entre Ronaldo e Kathryn Mayorga, a
12 de junho de 2009, num hotel em Las Vegas;
2. No dia seguinte, Kathryn apresentou na polícia de Las Vegas
uma queixa afirmando que tinha sido violada;
3. A polícia de Las Vegas fez testes a Kathryn e confirmou que a
então modelo teria sido “penetrada no ânus”, de acordo com o
relatório das autoridades;
4. Perante esta queixa, a
polícia de Las Vegas interrogou Ronaldo, que confirmou o ato sexual,
admitiu que “ela disse não e para várias vezes”,
embora se tenha mostrado “disponível”. Admitiu que foi “rude”,
que durante o ato não mudaram “de posição”, que o mesmo durou
“cinco a sete minutos”, e que no final lhe garantiu que não era
“como os outros”, pendido-lhe “desculpa” depois de terem tido
relações sexuais.
5. Alguns meses depois destes interrogatórios, os advogados de
Kathryn e Ronaldo iniciaram conversações no sentido de chegarem a
um acordo que contemplaria o silêncio da modelo sobre o caso, a
troco de uma indemnização, que acabou por se fixar em 375 mil
dólares;
6. Motivada pelo movimento #MeToo, e para tentar perceber se o
mesmo teria acontecido a outras mulheres, Kathryn quebrou o silêncio
e contou a sua versão da história, tendo os seus advogados
manifestado disponibilidade para devolver os 375 mil dólares que
Kathryn recebeu, para que o caso possa ser devidamente julgado pela
justiça;
7. A polícia de Las Vegas reabriu o caso.
Tudo isto são factos, não é especulação, não é
diz-que-disse, não é uma versão da história. Perante isto, como é
que a esmagadora maioria das pessoas reagiu em Portugal, usando
sobretudo as redes sociais? Insultando Kathryn, questionando as suas
motivações, vitimizando Ronaldo. Muito pouca gente teve o bom senso
de dizer apenas: “Vamos esperar para que sejam analisados todos os
factos e depois logo se vê se Ronaldo é culpado ou não”. E era
isso que deveria ter acontecido. Nem Ronaldo é mais culpado por ser
uma vedeta planetária, nem é menos culpado por ser o nosso herói.
Quem vai ter de responder por esta acusação não é o jogador que
marca golos de qualquer lado, não é o melhor do mundo, é o cidadão
Cristiano Ronaldo Aveiro, que tem os mesmos direitos e obrigações
que qualquer outro. É a isso que se chama justiça e é precisamente
por ser assim que o símbolo da justiça é uma figura com os olhos
vendados, porque todos são iguais perante a lei.»
Ricardo
Martins Pereira in MAGG 05-10-2018
Foto:
by Observador
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