sábado, 28 de outubro de 2017

Nada a acrescentar


Não é a primeira vez, e seguramente não será a última, que aqui transcrevo o artigo de opinião de Vítor Encarnação no Diário do Alentejo. Titula ele os seus artigos com a frase “Nada mais havendo a acrescentar...” que, no caso que aqui transcrevo, se aplica sem qualquer tipo de reservas. Tudo o mais que eu pudesse dizer sobre isso, seria excessivo.
Com a minha humilde vénia e aplauso, aqui Vos deixo o artigo desta semana:
«Paciência. Estou aqui sentado, é onde me sentam que eu fico, tanto se me dá onde me deixam, pode ser já aqui perto do silêncio, não vale a pena é ocupar lugar em frente à televisão, deixem essa cadeira para aqueles que ainda gostam de se entreter, os meus olhos já pouco veem, são só vultos, tudo à minha volta, e dentro de mim, são vultos, fantasmas a empurrarem-me para ver se caio. Tenham para aí paciência comigo. O que seria da minha vida se não fossem vocês, vocês, meus anjos brancos, são a minha família, a de sangue não quer saber de mim, vocês é que me consolam, desculpem-me terem de me limpar e de me lavar, de me sentar na sanita, de me cortar as unhas, o cabelo, a dor, terem de me despir, de me ver nu, eu que poucas vezes me vi nu, não era isto que eu queria, ninguém é velho e desgraçado porque quer, nunca imaginei tal coisa, o que um homem era, eu tenho vergonha mas não tenho ninguém que me acuda. Dizem-me para não descoroçoar, aqui há desgraças piores do que a minha, a vida não é como a gente quer, a vida é que manda, não passamos de uns bonecos nas mãos da vida. Somos trinta e tal e vocês são tão poucos, mas sempre ouvi dizer que o amor se multiplica. Abençoo as vossas mãos e abençoo a vossa voz, vou falar com a doutora, do pouco que tenho serão vocês os meus herdeiros, são vocês a minha família, a de sangue morreu. Tenham para si paciência comigo.»
Vítor Encarnação, in DA de 27-10-2017

Imagem: quadro ‘Old Man in Sorrow’ de Vincent Van Gogh

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Anti-assédio


O assédio – à semelhança de outros comportamentos que hoje reprovamos – não é, contrariamente ao que se possa pensar – um ato recente; existe há centenas de anos.
A nossa forma de agir ou interagir é, de facto, muito peculiar. De repente damos conta que existe pedofilia, que existe assédio (sexual ou outro) como se até hoje esse tipo de comportamento fosse residual. Nunca foi residual, bem pelo contrário. Nas últimas semanas os casos de assédio sexual sobre mulheres perpetrado por homens conceituados têm surgido como uma autêntica bola de neve.
Tardiamente, mas, como diz o povo, mais vale tarde que nunca.
Para muitos desequilibrados deste calibre, talvez um fato de banho deste género os afugentasse… ou não.

Foto: retirada de https://pplware.sapo.pt/

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Terra queimada


Estamos a assistir a uma tragédia. Todos estamos de acordo, mesmo aqueles que tentam hipocritamente levar a questão dos incêndios para a única esfera que lhes interessa: a política.
Pedir a demissão da ministra é, no mínimo, um ato de cobardia ou ignorância (ou ambos). É vergonhoso tentar – à força – enfiar na cabeça de um político uma carapuça que lhe não serve. É ignóbil apontar o dedo a uma pessoa como se ela fosse a mãe de toda esta desgraça.
É claro quer os compreendo, tentam branquear um passado. Um triste passado.
Aquilo que nos assola, aquilo que assolou no passado mês o sul de França e parte de Espanha, aquilo que assola neste momento a Califórnia ou, todos os anos no nosso inverno, a Austrália, é muito mais que a falta de competência de um ministro. Mas, para este tipo de cabecinhas pensadoras, isso não interessa para nada. Demita-se o ministro!
São os defensores da política de terra queimada dos tempos modernos.

Foto: Hélio Madeira
 

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

E o vencedor é…


Pois é, venceu em toda a linha o PS, isto é, o Partido Socialista. Parabéns ao vencedores.
Venceram – obviamente! - com honra e mérito, mas, nalguns casos com uma ajudinha de deuses menores.
No caso concreto do Município de Beja, a ajuda de um deus menor foi por de mais evidente. A CDU apostou numa equipa que demonstrou nos últimos quatro anos algum “umbilicismo”. Era evidente que João Rocha não era o homem certo para futuro presidente do município pacense, não tanto pelo que fez, mais pelo que deveria ter feito. Para piorar as coisas, nos últimos meses a oposição teve uma máquina muito bem montada e oleada. Orquestrou um conjunto de “notícias” sobre concursos e/ou ajustes diretos falaciosos no todo em parte com objetivos evidentes. Era comum ouvirem-se estes relatos em todas as povoações do concelho de Beja. Nunca, quem de direito, rebateu de forma convincente estas “notícias”. Hoje, também penso, que se calhar foi intencional esse não desmentido… Ele há coisas!
Finalmente Beja foi entregue aos justos, vão acabar os problemas, tudo vai ser resolvido, até o aeroporto vai ter aviões e o comboio eletricidade, e, é claro!, não irá haver jobs for the boys.
Também gosto de sonhar.