sexta-feira, 27 de julho de 2018

O amor pela maledicência


Confesso, nunca tinha pensado nisto. Sou distraído, assumo.
Concordo e subscrevo o artigo de opinião do juiz desembargador José Lúcio no Lidador Notícias, que transcrevo parte. 
“Os portugueses gostam de não gostar. Junte-se um molho deles, e veja-se. Basta começar a dizer mal, de algo ou de alguém.
Não há nada melhor para o convívio, nem petisco mais apreciado. As conversas logo se animam, numa cumplicidade subitamente desperta.
E nesse exercício solidário se descobrem afinidades, se alegra a festa, num sentimento comum. Qualquer grupo conhece esse sabor incomparável, a fraternidade calorosa da má língua. Desvanecem-se tensões e animosidades, descontraem as hostes, irmanam-se os espíritos.
Faça-se também a experiência oposta. Um dos convivas, desprevenido e ingénuo, que tente intervir para emitir elogios ou exprimir agrado. Nem interessa a que propósito ou despropósito. Não duvidem que a intervenção vai provocar logo uns esgares de estranheza e incómodo. Logo tinha que aparecer um a estragar o ambiente. Baixa a temperatura, as almas esfriam. Estava tudo tão bem, assim é que não tem graça.
(…) Uma outra manifestação do mesmo fenómeno trouxe-nos o engraçadismo que se tornou dominante nos grandes meios de comunicação social. Não se pode falar de nada, por mais sério e dramático que seja, sem condimentar a prosa com uma graçola ou alarvidade qualquer. Alarvidade ou ordinarice, que as fronteiras esbatem-se no esforço preocupado e artificial para ser engraçado a todo o custo. (…)”
José Lúcio, Juiz Presidente da Comarca de Beja in LN 27/07/2018
Imagem: Google

quarta-feira, 25 de julho de 2018

A Mãe do Ano


Onde ela vai, eles seguem-na. Todos, são “apenas” 76 patinhos!
Uma fêmea de pato em Minnesota, EUA, tem cerca de seis dúzias de patinhos sob seus cuidados, escreve o New York Times na sua edição de ontem. Brent Cizek, fotógrafo amador de vida selvagem, captou estas fotos notáveis numa recente viagem ao Lago Bemidji, a cerca de 240 km a noroeste de Duluth, Minnesota. Depois do primeiro encontro tem lá regressado com frequência para acompanhar o crescimento desta prole.
É um achado extraordinário, afirma Richard O. Prum, ornitólogo da Universidade de Yale. Obviamente que não são todos filhos desta pata, mas é raro ver uma pata com tantos patinhos.
No lago há outros patos e patas, mas só esta é que os patinhos perseguem.
Entre os apaixonados da fotografia de vida selvagem já foi galardoada como “A Mãe do Ano”.
Merecidamente, digo eu.
Imagens: Brent Cizek


 

domingo, 22 de julho de 2018

Salazar na Time


22 julho de 1946, a revista Time dá a capa da sua revista a Salazar. No artigo intitulado “PORTUGAL: How Bad Is the Best?noticia que “Portugal, na passada semana não teve notícias de relevo, aliás, à semelhança dos últimos 20 anos. Salazar, diz, para o bem dos portugueses, suprime e distorce todas as notícias. (…) Passados que são 20 anos de ditadura de Salazar, o decano dos ditadores na Europa, Portugal é uma terra melancólica, de pessoas empobrecidas, confusas e amedrontadas.”
Salazar, obviamente, proibiu a distribuição desta edição da revista em Portugal.

 

sábado, 21 de julho de 2018

Algodão negro


Subscrevendo na integra o editorial de Paulo Barriga no DA de ontem, aliás quase sempre o subscrevo, transcrevo e convido o meu caro leitor a lê-lo comprando o jornal porque serão 0,90 EUR bem empregues.
“… É tudo muito transparente nos diferentes órgãos de soberania, no aparelho do Estado e na res publica em geral até ao momento em que se pretenda passar o algodão para comprovar tanta e tamanha limpidez. Aí, a coisa muda de figura. Embacia. Escurece. …”

 

sábado, 14 de julho de 2018

O Calvário


É este o termo mais “soft” de quem tem que percorrer a estrada nacional nº 391 entre Salvada e Quintos, quer para visitar uma destas localidades quer para se deslocar de ou para Serpa utilizando o caminho de terra batida entre o Monte dos Pisões e a ponte do Guadiana.
Há meses fui informado deste purgatório, confesso, achei exagerado.
Hoje visitei Quintos.
Envergonhei-me. Envergonhei-me de ter achado exagerado o que me disseram sobre o mau piso desta estrada nacional. Envergonho-me de viver num centro urbano cheio de autoestradas e vias rápidas e outros (Salvada, Quintos, etc.) serem tratados como enjeitados.
Sobre esta calamidade de via foi há muitas semanas questionada a empresa Infraestruturas de Portugal (responsável pela manutenção e conservação desta via de trânsito). Resposta obtida, zero.
Não sei se as autarquias locais (junta de freguesia e município) já questionaram a empresa Infraestruturas de Portugal, mas, mesmo que o tenham feito, já poderiam ter minimizado o sofrimento de quem diariamente utiliza esta estrada tapando os buracos e retirando o enorme amontado de pedras que se encontram junto aos ditos buracos.
Seria um serviço público útil, à falta de vergonha de quem tem esse dever e obrigação.

 
Foto: meramente ilustrativa, via Google

terça-feira, 3 de julho de 2018

Depressivo eu?! Jamais!


Depressão, o que é?
«A depressão é uma perturbação mental, mais concretamente uma perturbação do humor, que afeta tanto o cérebro como o corpo. No entanto, é importante lembrar que a depressão tem tratamento.»
O mais grave na depressão é que ela é invisível ao seu portador e, pior que isso, quando se apercebe deste estágio tenta camuflá-la a quem o rodeia.
Sobre este assunto cada vez mais atual, transcrevo parte do artigo/entrevista de Ana Pimental in Observador à Doutora Alison Darcy que poderá ler aqui.
«Não sei onde está a ler este email, mas se desviar os olhos do ecrã durante dois segundos e olhar à sua volta, atente nisto: uma em cada quatro pessoas que o rodeiam está a sofrer, já sofreu ou há-de vir a sofrer com uma depressão. Se lhe perguntar se está tudo bem, o mais provável é que responda: “Claro que sim e contigo?”. Se for à sua página de Facebook, Instagram, Twitter ou blogue, vai estar tudo melhor ainda: não faltará sentido de humor apurado sobre os mais diversos tópicos e polémicas, nem as fotografias em eventos e sítios de fazer inveja a todo e qualquer comum mortal que nunca tem tempo para nada.
O tema não é novo. A pressão das redes sociais e a epidemia da solidão digital vieram enaltecer um estigma que é antigo e que todos nós conhecemos relativamente bem: que a depressão é coisa de “fracos” e que a ansiedade “está toda na nossa cabeça”. Quantas vezes já ouviu alguém dizer que “as tristezas não pagam dívidas”? Mas pagam: não há dívida mais prejudicial ao nosso bem-estar do que a emocional.
Alison Darcy conhece bem esta realidade: doutorada e investigadora em psicologia clínica na Universidade de Stanford, nos EUA, depois de ter trabalhado com pessoas que estavam mentalmente muito doentes, percebeu que quanto mais cedo chegasse a elas, melhor. E com um sistema de inteligência artificial que se socorre de táticas da psicologia cognitiva comportamental decidiu ajudar quem está emocionalmente mais vulnerável. Foi assim que nasceu o Woebot, um robô amarelo que tem pouco mais de um ano, com quem qualquer pessoa pode trocar mensagens (em inglês) sobre o seu estado de espírito.
A ideia não é a de substituir ajuda profissional, disse-me Alison, é a de encorajar a partilha entre humanos. Um sistema de inteligência artificial bem humorado pode ser bom para afastar um pensamento negativo, mas nunca substituirá aquilo que no fim do dia realmente interessa: quem esteve lá, quem perguntou, quem nos ouviu, quem nos abraçou e quem se lembrou.
Todos nós temos o nosso pequeno exército amarelo a quem recorrer. Usem o vosso, por favor ☺ Até terça!»