quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Não gosto de ti, graças a Deus


Somos todos uns amores, gostamos todos uns dos outros (veja-se as redes sociais!), mas há exceções. Todos nós temos – assumidamente, ou confidencialmente – um grupo de pessoas que detestamos, por este ou aquele motivo ou, mais problemático, sem qualquer motivo aparente, ou seja, porque sim.
Sobre esse não gosto, transcrevo o texto de Vítor Encarnação desta semana no Diário do Alentejo, na sua habitual crónica “Nada mais havendo a acrescentar...”:

Fico feliz por haver pessoas que não gostam de mim, dizia o homem muito empertigado na sua cadeira na esplanada.
Fico obviamente grato com tal distinção e não poderia deixar de agradecer publicamente essa importância negativa que me é dada. Se ouvirem falar mal de mim, isso pode ser um bom sinal, se vos constar que me destratam, isso pode ser um orgulho e uma motivação para eu continuar a ser assim.
Não queiram dar-se bem com toda a gente, não tenham a veleidade de querer ser amigos de todos, isso é um logro, algo está errado quando todos os caminhos vão dar ao mesmo destino.
Nada é mais enganador do que a ilusão de que nos podemos dar bem com todos e fazermos da concordância um princípio de vida, isso não é harmonia, isso é seguidismo.
Não sou mais do que os outros, não me tenho em demasiada conta, mas olhando em volta, ouvindo palavras e vendo atitudes, posso afirmar que é um privilégio muito grande constatar que provoco antipatia e azedume em algumas pessoas. Não me dobram não, que eu não deixo, nunca fui troféu, nunca fui a voz do dono, nunca fui cá de segredos e panelinhas, há até por aí alguns que não se esquecem que nunca me dobraram, esses são os piores, esses não me olvidam nem perdoam, vivessem eles mil vidas, vivesse eu outras mil, a mim é que eles não vergavam.
É para mim uma honra haver pessoas a quem eu causo irritação.”


 

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