Vítor
Encarnação escreve na sua crónica “nada mais havendo a
acrescentar…” no Diário do Alentejo desta semana sobre a
dicotomia “Amor – Ódio”.
Com
a devida vénia, transcrevo:
«O
amor e o ódio
O
amor e o ódio são gémeos verdadeiros que vivem abraçados um ao
outro. Enquanto o primeiro vive o outro faz-se de morto, esconde-se
num sítio escuro, anicha-se na penumbra dos ácidos e das amarguras
e por ali fica, às vezes uma vida inteira sem se dar por ele, outras
vezes basta uma insatisfação, um capricho não satisfeito e eis que
ele mata o amor, inapelavelmente, com uma facada nas costas. Mas
primeiro é o amor, primeiro é o absoluto encantamento, primeiro é
essa coisa maior do que o mundo, maior do que a vida. Haja pele e
carne e olhos e mãos para ver, para tocar, para ter. O problema do
amor comum é esse, o problema do amor comum é que gosta de ter,
espera sempre mais do que dá, gosta de ser amo do próprio amor. O
amor tem um molde onde o outro tem de encaixar para que tudo seja
perfeito. E quando esse molde não se preenche, quando o egoísmo
assoma à boca e ao pensamento, o amor dá lugar ao seu irmão gémeo.
E então o ódio sai das catacumbas que as pessoas trazem no peito,
rasga as memórias e os beijos e a eternidade e as promessas e o
casamento e os filhos e o mundo e a vida toda e grita uma intensa e
cega raiva. Só que enquanto o ódio vive, o amor morre mesmo. Para
sempre. E se não morrer, nunca mais será verdadeiro.»
Vítor
Encarnação in DA nº 1776
(II Série)
| 06
maio 2016
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