domingo, 12 de abril de 2015
Nada mais havendo a acrescentar... Há que refletir
Refletir, é o convite que nos faz este texto magistralmente escrito por Vítor Encarnação na sua crónica desta semana no Diário do Alentejo:
«A data da morte
Pai, não seria melhor se soubéssemos a data da nossa morte logo quando nascemos?
A certidão de nascimento podia ter também uma declaração de longevidade com dia e hora marcada. E quando fôssemos tirar o cartão de cidadão, ao lado da data der nascimento figurava também a data do nosso fim.
Pai, não achas que era mais fácil saber o tamanho da nossa vida? Quantos dias e quantas noites, quantos aniversários, quantos natais.
Imagina tu as pessoas a organizarem as suas vidas dentro do tempo que lhes calhou! Olhavam para os anos e diziam, eu existo daqui a acolá. Não, já não pode ser, nessa data já cá não estou, tem que ser antes.
E imagina o que era nós não adiarmos nada para quando já não fosse possível e fazermos tudo dentro dos limites da nossa existência.
E imagina tu o que era podermos saber quanto tempo tínhamos para nos amarmos e para nos queremos bem. E assim não precisávamos de achar que somos maiores do que a própria vida, assim sabíamos, porque estava escrito, que éramos simples mortais e por causa dessa certeza usávamos o tempo serenamente. E no próprio dia, à hora marcada, depois de uma vida inteira habituados a essa expiração e sem termos medo de morrer, despedíamo-nos de todos como se nos fôssemos deitar.»