Não
é a primeira vez, e seguramente não será a última, que aqui
transcrevo o artigo de opinião de Vítor Encarnação no Diário do Alentejo. Titula ele os
seus artigos com a frase “Nada mais havendo a acrescentar...”
que, no caso que aqui transcrevo, se aplica sem qualquer tipo de
reservas. Tudo o mais que eu pudesse dizer sobre isso, seria
excessivo.
Com
a minha humilde vénia e aplauso, aqui Vos deixo o artigo desta
semana:
«Paciência.
Estou aqui sentado, é onde me sentam que eu fico, tanto se me dá
onde me deixam, pode ser já aqui perto do silêncio, não vale a
pena é ocupar lugar em frente à televisão, deixem essa cadeira
para aqueles que ainda gostam de se entreter, os meus olhos já pouco
veem, são só vultos, tudo à minha volta, e dentro de mim, são
vultos, fantasmas a empurrarem-me para ver se caio. Tenham para aí
paciência comigo. O que seria da minha vida se não fossem vocês,
vocês, meus anjos brancos, são a minha família, a de sangue não
quer saber de mim, vocês é que me consolam, desculpem-me terem de
me limpar e de me lavar, de me sentar na sanita, de me cortar as
unhas, o cabelo, a dor, terem de me despir, de me ver nu, eu que
poucas vezes me vi nu, não era isto que eu queria, ninguém é velho
e desgraçado porque quer, nunca imaginei tal coisa, o que um homem
era, eu tenho vergonha mas não tenho ninguém que me acuda. Dizem-me
para não descoroçoar, aqui há desgraças piores do que a minha, a
vida não é como a gente quer, a vida é que manda, não passamos de
uns bonecos nas mãos da vida. Somos trinta e tal e vocês são tão
poucos, mas sempre ouvi dizer que o amor se multiplica. Abençoo as
vossas mãos e abençoo a vossa voz, vou falar com a doutora, do
pouco que tenho serão vocês os meus herdeiros, são vocês a minha
família, a de sangue morreu. Tenham para si paciência comigo.»
Vítor
Encarnação, in DA de 27-10-2017
Imagem:
quadro ‘Old Man in Sorrow’ de Vincent Van Gogh
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