Diz-se
em Quintos (não sei se apenas em Quintos) que o pardal gosta da
companhia dos humanos. Nos montes habitados há pardais, quando esses
montes ficam desabitados os pardais também emigram. Diz-se.
Ontem,
escrevia no Diário do Alentejo Vítor Encarnação na sua coluna
“nada mais havendo a acrescentar...” o texto que
transcrevo e subscrevo, apetecendo-se dizer, passe a imodéstia,
“também sou Pardal” ou, como hoje virou moda
“Je Suis Pardal”.
«Gosto
de pardais. Os pardais são o proletariado dos pássaros. Na
hierarquia dos pássaros, os pardais ficam na base, são a classe
mais baixa. Abaixo deles não há mais nada.
Se
os pardais tivessem nome, teriam nomes curtos e comuns e seriam mais
conhecidos pelas alcunhas.
Os
pardais são o povo e por isso não voam muito alto. Contentam-se com
pequenos voos, vão ali a um bocadinho do céu e voltam felizes.
Gosto de pardais porque eles não abalam quando faz frio, ficam,
aceitam o vento e a falta de sementes e borboletas, acatam a míngua
dos campos, buscam migalhas, assumem que há invernos e que depois
haverá primaveras e com elas virão rouxinóis e pintassilgos e
outros pássaros coloridos e de belas plumagens.
Há
quem goste mais destes, eu prefiro os pardais.
Se
os pardais tivessem boca, bebiam vinho tinto, comiam petiscos,
cantavam em grupos corais, cantavam fado, traduziam filosofias para
décimas de baldão e rimas de despique, diziam mentiras e verdades,
falavam de bola, gritavam e beijavam.
Se
os pardais soubessem o que é o tempo, escreviam poemas sobre a
saudade, a esperança, a paixão e a morte.
Se
os pardais tivessem dedos, abriam as gaiolas e soltavam todos os
pássaros coloridos.
Os
pardais são os pássaros mais parecidos com a nossa vida: uma
inquietação coberta de penas.»
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