quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Você já morreu


No tempo de Salazar e Caetano muitos mortos tinham direito a voto. Era comum, quem tinha oportunidade de verificar os cadernos eleitorais de então, verificar que muitas pessoas que já tinham falecido há tempo tinham "exercido" o direito de voto. Era da "praxe".
Mesmo depois do 25 de abril de 1974 - durante muitos anos - quem consultasse os cadernos eleitorais verificava que nele constavam pessoas que tinham morrido há meses, por vezes há anos. Era um sistema lento, burocrático e pesado, aquele que existia entre as conservatórias do registo civil e as comissões recenseadoras.
Hoje, as coisas são bastante mais céleres, temos um sistema, digamos, bom que, como todos sabemos, é inimigo do ótimo.
Há erros, como em tudo na vida, que devem não apenas ser corrigidos como, sempre que possível, evitados.
Sobre um desses erros registado no passado domingo, escreve o Ricardo Araújo Pereira na revista Visão de hoje:

«Um eleitor dirigiu-se a uma assembleia de voto e foi impedido de votar porque os cadernos eleitorais indicavam que estava morto desde 2013. (...) O eleitor voltou para casa porque não foi capaz de argumentar contra os documentos oficiais, e concluiu-se que não poderia votar. (...)
Além de fazer uma limpeza dos cadernos eleitorais para os expurgar mortos, há que fazer igualmente a limpeza dos registos de óbito para os expurgar de vivos. (...)
Na minha opinião, um defunto que se dá ao trabalho de se dirigir a uma assembleia de voto deveria ser autorizado a exercer o seu direito. Há cidadãos vivos com menos respeito pela República.»
  


Sem comentários: