Barbárie,
é a resposta dada a esta questão por Rachel Sheherazade na Folha
SP.
Eis
o artigo publicado na coluna Tendências / Debates de hoje.
«O
fenómeno da violência é tão antigo quanto o ser humano. Desde sua
criação (ou surgimento,dependendo do
ponto de vista), o homem sempre esteve dividido entre razão e
instinto, paz e guerra, bem e mal.
Há
quem tente explicar a violência, a opção pela criminalidade, como
consequência da pobreza, da falta de oportunidades: o homem fruto de
seu meio. Sem poder fazer as próprias escolhas, destituído de
livre-arbítrio, o indivíduo seria condenado por sua origem humilde
à condição de bandido. Mas acaso a virtude é monopólio de ricos
e remediados? Creio que não.
Na
propaganda institucional, a pobreza no Brasil diminuiu, o poder de
compra está em alta, o desemprego praticamente
desapareceu... Mas, se a violência tem relação direta coma
pobreza, como explicar que a criminalidade tenha crescido em igual ou
maior proporção que a renda do brasileiro? Criminalidade e pobreza
não andam necessariamente demãos dadas.
Na
semana passada, a violência (ou a falta de segurança) voltou ao
centro dos debates. O flagrante de um jovem criminoso nu, preso a um
poste por um grupo de justiceiros deu início a um turbilhão de
comentários polémicos.
Em meu espaço de opinião no jornal “SBT Brasil”, afirmei
compreender (e não aceitar, que fique bem claro!) a atitude
desesperada dos justiceiros do Rio.
Embora
não respalde a violência, a legislação brasileira autoriza
qualquer cidadão a prender outro em flagrante delito. Trata-se do
artigo 301 do Código de Processo Penal. Além disso, o Direito
ratifica a legítima defesa no artigo 23 do Código Penal.
Gravura:
Herman Tacasey
|
Depois
de desarmar os cidadãos (contrariando o plebiscito do desarmamento)
e deixá-los à mercê dos criminosos, a nova estratégia do governo,
por meio do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, é
neutralizar a polícia, abolindo os autos de resistência.
Na
prática, o policial terá que responder criminalmente por toda morte
ocorrida em confronto com bandidos. Em outras palavras, é
desestimular qualquer reação contra o crime. Ou será que a polícia
ousará enfrentar o poder de fogo do PCC (Primeiro Comando da
Capital) ou do CV (Comando Vermelho) munida apenas de apitos e
cassetetes?
Outra
aliada da violência nossa de cada dia é a legislação penal: filha
do “coitadismo” e mãe permissiva para
toda sorte de criminosos. Presos em flagrante ou criminosos confessos
saem da delegacia pela porta da frente e respondem em liberdade até
a última instância.
No
Brasil de valores esquizofrénicos, pode-se matar um cidadão e sair
impune. Mas a lei não perdoa quem destrói um ninho de papagaio. É
cadeia na certa!
O
ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Estatuto da
Impunidade, está sempre à serviço do menor infrator, que também
encontra guarida nas asas dos direitos humanos e suas legiões de
ONGs piedosas. No Brasil às avessas, o bandido é sempre vítima da
sociedade. E nós não passamos de cruéis algozes desses infelizes.
Quando
falta sensatez ao Estado é que ganham força outros paradoxos. Como
jovens acusados pela violência que tomam para si o papel da polícia
e o dever da Justiça. Um péssimo sinal de descontrole social. É na
ausência de ordem que a barbárie se torna lei.»
Rachel
Sheherazade, jornalista in Folha de S. Paulo, 11/02/2014
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