domingo, 1 de abril de 2012

A Praça (I)

 
Quintos, 2 de abril de 1962. Era segunda-feira e, como todas as segundas-feiras, houve praça na minha aldeia. Homens e mulheres assalariados agrícolas reuniam-se sob uma chuva miudinha no largo da ponte, junto à nogueira na entrada de Quintos. Aguardavam ansiosamente por um patrão. Ou melhor, por um emprego. Os patrões menos ricos e os lacaios dos patrões mais ricos (sim, porque os mais ricos mandavam os seus lacaios ou feitores) vinham comprar mão-de-obra à praça.
Os patrões estabeleciam o valor da jorna para essa semana. Após a pergunta de quem estava interessado nessa jorna, escolhiam os mais aptos, os mais fortes, os que menos problemas levantavam, isto é, os que não demonstravam consciência de classe. Os fracos, os doentes, os que gostavam de defender os seus interesses e os interesses dos camaradas eram pura e simplesmente excluídos. No final da praça, se houvesse necessidade de mais mão-de-obra, os excluídos eram contratados a um preço mais baixo que os primeiros.
A segunda-feira era o dia em que menos se trabalhava. As negociações na praça, por vezes, estendiam-se até perto das 10 horas da manhã. Mas este tempo perdido tinha obrigatoriamente que ser compensado nos restantes dias da semana.
Trabalhava-se de sol a sol. As oito horas começariam a ser reivindicadas no mês de maio desse ano.
Não havia subsídio de desemprego. Não havia reformas. Não havia assistência médica nem medicamentosa. Quando os dias de intempérie (havia muitos nesses tempos) não permitiam a realização do trabalho, os assalariados eram mandados para casa… Sem salário.
  

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