sábado, 7 de novembro de 2009

A Hipocrisia da Amizade

Cheguei hoje a Quintos.
Já cá não vinha há cerca de um mês.
Para não fugir à regra fiquei hospedado na casa do tio Júlio. O tio Júlio diz que eu não sou um hóspede. Sou, não apenas um filho da terra como também um filho da casa. Emociona-me quando me diz isso. Revela a grande Amizade que existe entre nós, apesar de não haver qualquer laço familiar.
Quando olho para o tio Júlio interrogo-me, por que será que não somos todos como ele?
Puros, sinceros, amigos dos seus amigos.
Até em Quintos a amizade já não é como outrora. Até aqui, nos confins do Alentejo, a amizade já navega nos mares do favor, da influência, da intriga, do poder. É-se amigo por interesse … ou por medo. Estar no grupo errado de amigos é perigoso. No mínimo é-se ostracizado.
Hoje vejo pessoas em Quintos a dizer e a fazer coisas que há pouco mais de dez anos condenavam. Hoje são amigos e defensores de pessoas que há dez anos criticavam e até odiavam.
Foram os outros que mudaram?
Não.
Foram eles que se adaptaram.
Foram assimilados.
Perderam a verticalidade.
Hoje são cães de fila de um dono que continua a ostraciza-los. E eles sabem disso.
Hoje cumprem à risca o que o dono manda. Sem sequer pensar se está correcto ou não. Porque pensar, há muito que deixou de ser uma actividade dos seus cérebros.

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