sábado, 11 de outubro de 2014

Pra frentex

  
Santiago do Cacém, 11 de outubro, 5 da tarde.
Jorge Avillez, jovem aristocrata rural entra em Santiago do Cacém ao volante de um Panhard & Levassor, o primeiro automóvel a circular em Portugal. É claro que não foi hoje, foi há 119 anos atrás - 1895.
Tratava-se de um veículo topo de gama, com tração traseira e com o motor dianteiro longitudinal de dois cilindros em V, 4 CV e 1290 cm³ de cilindrada. O veículo tinha chegado ao porto de Lisboa alguns dias antes. Na alfândega de Lisboa, ao decidirem a taxa a aplicar, hesitam entre considerar aquele estranho objeto, máquina agrícola ou máquina movida a vapor. Acabam por se decidir por esta última.
Depois da montagem dos vários componentes numa oficina de carruagens da baixa lisboeta, o Panhard está apto a circular.
Atravessado o rio Tejo, foi acionado o seu motor, dando início à primeira viagem de automóvel em solo português. Foi uma viagem dura, pois as estradas da época nada tinham a ver com as de hoje, o carro possuía rodados de madeira e aros de ferro, atingindo apenas uma velocidade máxima da ordem dos 20 km/h. Durante o trajeto foram muitas as peripécias, entre elas o primeiro acidente de viação em Portugal. Em Palmela surge um burro no meio da estrada e daí recusa-se a arredar com a sua típica teimosia. O choque é inevitável e do atropelamento resulta a morte do burro. O dono vê-se então recompensado da sua significativa perda com a quantia de dezoito mil réis (9 cêntimos de euro, na moeda atual), o triplo do valor de um burro naquela época. Posteriormente e porque na época não havia estações de serviço para abastecimento, o proprietário do viatura resolveu atestar o depósito com petróleo de iluminação, em vez da benzina que devia utilizar. O pobre do carro engasgou-se e recusou-se a andar mais. Foi necessária uma limpeza do depósito e do motor, para que a máquina voltasse a funcionar. O veículo pioneiro, é propriedade do automóvel Clube de Portugal e encontra-se exposto no Museu dos Transportes e Comunicações, no Porto.

  
Foto: Museu dos Transportes e Comunicações