sexta-feira, 29 de março de 2013

Honrado Comunista

 
Ser Comunista é uma utopia. É algo supremo de mais, inatingível, portanto. Ser Cristão não é diferente.
Dizer-se comunista ou cristão é, não só banal, como fácil. Sê-lo, é outra coisa completamente diferente.
Eu, pessoalmente, não conheço nenhum, comunista ou cristão. Conheço, entretanto, alguns que por lá andam perto, mas estar perto é uma coisa, estar lá é outra muito diferente.
Conheci mal João Honrado, como tal não vou fazer juízo de valor sobre a sua pessoa, mas concordo quase em absoluto com o tema de Paulo Barriga no Editorial desta semana do Diário do Alentejo.
Com a devida vénia aqui o transcrevo:

Honrado 
  
A ambição pessoal é a primeira de entre todas as difíceis provações do ser-se comunista. Combatê-la, expurgá-la, amansá-la, numa luta incessante, que se reacende a cada instante com redobrada violência, não está ao alcance de qualquer um. Ser-se comunista, antes de qualquer razão ideológica ou programática ou mesmo mística, consiste precisamente nesse combate permanente contra as investidas do individualismo. O que não é nada fácil, já se disse. A natureza humana, na sua mais imperfeita condição, é contrária à utopia coletivista. A primeira aspiração do operário é ascender a manajeiro. A primeira vontade do rural é dar em lavrador. O primeiro desejo do soldado é comandar o pelotão. No fundo, a primeira ambição do proletário é vestir a fatiota do burguês. Ser-se comunista, comunista à séria, no sentido elementar do termo, do tornar comum, é afinal lutar contra a vil tentação do individualismo. Pregando a todo o momento as virtudes do coletivismo. Não é usual encontrarem-se comunistas assim. Gente desapegada. Verdadeiramente fraterna e plural. Tão despojada e crente e pura quanto os primeiros cristãos o foram. Comunistas que residem (ou resistem) muito para lá do Partido. Muito além dos partidos. João Honrado, que há uma semana nos deixou, foi das poucas pessoas que conheci a quem o rótulo “comunista” lhe não caía mal. Na sua ética, na sua coerência, na sua convicção inabalável, Honrado representa um tempo, uma geração de homens e de mulheres, que já não existe. Um exemplo, um modelo que qualquer um teria gosto em seguir. Mas que à partida o saberia inalcançável. A vida e a luta de João Honrado vencerão, por certo, a lei do esquecimento. Porque ser-se comunista não está ao alcance de qualquer um. E João Honrado foi dos raros combatentes que venceu todas as duras batalhas que travou contra as investidas do individualismo. Que é a maior das provações do ser-se comunista. 

Paulo Barriga, Editorial do Diário do Alentejo, 28-03-2013
  

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