domingo, 20 de junho de 2010

O Indesejado

 
Todos nós gostamos de receber visitas em nossa casa. Amigos, familiares ou menos conhecidos desde que sejam ilustres. Faz-nos bem ao ego.
Em contrapartida há visitas que dispensamos. Ou nem queremos ouvir falar. Mesmo que ilustres.
O FMI é um caso destes. Quando nos bate à porta até as paredes tremem.
Ao longo dos tempos podemos mentir, dizer que as finanças não vão tão mal como pintam, a recuperação está no bom caminho, o pior já passou … nisto, aparece o famigerado FMI e desmascara tudo.
Em engenharia financeira tenho visto muita coisa, mas um golpe de marketing como este nunca: José Luís Zapatero não esperou que o FMI lhe batesse à porta. Convidou-o a ir lá a casa!
É de homem!
O director-geral do FMI, Strauss-Kahn, teceu elogios às medidas de austeridade espanholas e disse estar muito confiante nas perspectivas a médio e longo prazo para a economia espanhola.
E disse mais: Espanha e Portugal não são comparáveis porque, entre outros, a dívida pública e privada portuguesa é excessiva.
É claro que o senhor Strauss-Kahn se “esqueceu” de falar no défice espanhol que é muito superior ao nosso ou no escandaloso número de desempregados (quase 20%) que a Espanha tem entre braços.
E não nos podemos esquecer que a banca espanhola está com crédito malparado cada vez maior, atingindo valores na casa dos 5,49%, a mais alta desde Março de 1996.
Foi inteligente este convite de Zapatero?
Foi.
Foram úteis as declarações de Strauss-Kahn?
Foram. Acalmaram o mercado e reduziram o ímpeto dos especuladores que já tinham as suas baterias apontadas para Espanha. Dispensava-se a referência a Portugal.
É bom para Portugal que a economia espanhola se consolide.
Tanto mais que, se a economia espanhola for ao fundo, a portuguesa morre afogada.
 

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